Escutar no Silêncio

 

 Escutar no Silêncio

Carla Martins

 

Nas últimas semanas fomos, repentinamente, obrigados a mudar hábitos e formas de estar na vida. A chegada do COVID-19 a tantos países colocou-nos á maioria de nós dentro de casa. Saímos para o essencial e neste espaço, a que chamamos casa, desempenhamos as tantas tarefas que antes aconteciam em vários espaços físicos. 

 

Adultos em teletrabalho, crianças em escola online, convívios por videoconferência, aulas on-line de fitness, yoga, pilates, culinária, crescimento pessoal etc . A casa, as refeições, os animais e a família para cuidar. Para muitos a vida complicou e para outros complicou muito. Não apenas em termos de rotinas, mas também segurança económica, perdas, incerteza, medo, ansiedade, stress, angústia, raiva, impotência... o cenário não é fácil e é uma realidade que nenhum de nós alguma vez vivenciou.

 

O momento de quarentena instala-se e nas redes sociais, blogs, sites diversos refletem a ideia de aproveitarmos e fazermos tanta coisa que nas circunstâncias “normais” da vida quotidiana pré-quarentena não conseguíamos. Parece-me que saímos de um registo de fazer – fazer - fazer constante para um outro registo diferente, mas que trás consigo novamente a necessidade contínua de fazer, produzir, ocupar e distrair.

 

Por aqui está a haver uma pausa profunda...não se trata de uma pausa externa pois continuasse a trabalhar, a servir e apoiar da melhor forma possível quem me procura, a harmonizar a casa, a cuidar da família - e a ser cuidada também -, a preparar refeições e tudo o que é necessário completar nas rotinas diárias. Mas antes é um desacelerar interno subtil, um mergulhar mais profundo em cada atividade ou não atividade daquele instante. Um desacelerar e uma presença para permitir que no silêncio se escute e viva com consciência a vida a acontecer em cada momento. Um espaço interno para que se escute as muitas questões á volta da realidade presente e para as quais quase nenhumas são as respostas...Se sinta as dúvidas, as incertezas, os medos, a insegurança... Se note a corrente de pensamentos, por vezes catastróficos, do que poderá ser o amanhã...Se habite este corpo com as suas dores, cansaço, necessidades e momentos de bem-estar... Se abrace os momentos simples de felicidade, alegria e gratidão - e que são tantos... muitos... e respira-se , respira-se muito e respira-se mais um pouco.  Abre-se espaço para acolher com gentileza tudo o que está (e o que não está) no momento presente.

 

E é só isto - estar presente na simplicidade do que é e desligar a necessidade de busca de algo, o movimento constante de fazer e mostrar que se faz, de se continuar a concretizar para chegar não sei onde, de adquirir o que se precisa e o que talvez o que não se precisa. É só este estar e ser, aqui, em cada momento, um momento de cada vez. Só... um m o m e n t o de cada vez! “Respira! Estou aqui! Agora, só agora está tudo bem.” e depois, logo a seguir vem outro momento permeado de algo semelhante ao anterior ou completamente diferente, mas é novamente apenas um instante e neste volto a relembrar-me: “Respira! Estou aqui! Agora, só agora está tudo bem”.

 

Faz diferença? Para mim faz! Faz muita! Já não existe outra intenção na forma de viver cada experiência que não esta, este convite, momento a momento, de estar aqui. É como se fosse um “estar em casa”. E ao mesmo tempo, e em cada instante, é como se me permitisse conhecer e mergulhar um pouco mais no verdadeiro significado que tem para mim este viver “acordada”, “no momento presente”. É como se chegasse mais e mais profundamente a esta “minha casa”. Uma caminhada e descoberta contínua e sem fim.

Sinto que agora o convite é apenas silenciar porque os recursos internos estão dentro de cada um de nós, sempre disponíveis! Como diz Rumi são “uma nascente de dentro de ti a mover-se para fora”. Respira, confia em ti.

 

Para mim é apenas isto! E para ti?! Talvez possa ser esse o convite nestes tempos: silenciar, parar, escutar e caminhar um momento de cada vez, com gentileza e confiança nesta nascente que está dentro de ti e a mover-se a cada instante para te apoiar neste e em todos os momentos da tua vida!

 

Que estejas bem! Que fiques bem!

 

Carla Martins

 

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